Na pintura de Guilherme Parente há qualquer coisa de um mundo onírico muito discreto que de algum modo nos informa, e fá-lo com surpreendente eficácia, acerca de algo que já se passou… Quando e como, para cada um, sua verdade, pois não há certezas rigorosas nas recordações daquilo que apenas sonhámos.
Cada um que puxe pela memória, se acaso quiser conhecer os enredos que estão por detrás de uma espécie de neblina, pois recordar pode ser uma coisa doce, desde que não se exijam provas cabais de veracidade acerca do que se terá passado na realidade.
São histórias de crianças contadas aos adultos, para que estes possam adormecer na paz das boas incertezas. E as brisas visuais que envolvem as telas trazem e levam, sempre suavemente, uma suspeita de música, talvez de Ravel, que nunca foi impressionista, tal como o Guilherme o não é…
Se a pintura de Guilherme Parente pudesse transformar-se em música, seria a crisálida de onde veríamos sair uma sarabanda, dança suave e pacificadora.
António Victorino d’Almeida